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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Defeso do Robalo, sim ou não?


Defeso do Robalo ?

Setembro, Outono e ao virar da esquina temos a famosa desova dos robalos irregular ao longo da costa Portuguesa , já capturei robalos ovados entre Outubro e Março, considero que o pico da desova aqui pelo norte decorra nos meses de Janeiro e Fevereiro.

Há algum tempo que se fala do defeso dos robalos, este tema é muito discutido entre os pescadores lúdicos principalmente em alguns círculos , pessoalmente considero que no futuro inevitavelmente o mesmo ocorrerá , acredito igualmente que o mesmo não acontecerá devido a uma tomada de consciência dos pescadores profissionais mas sim pela escassez dos stocks das populações.

Na realidade não consigo encontrar grandes estudos sobre o stock da espécie nas águas costeiras nacionais, não sei se é pela falta dos estudos em questão ou por falta de conhecimento da existência dos mesmos por minha parte.

A sensibilidade que tenho como pescador lúdico é que o nº de indivíduos que ocorrem aos pesqueiros por mim mais frequentados baixou drasticamente na última década, as informações que me vão chegando um pouco por todo o lado de pescadores de Norte a Sul é que o fenómeno é geral.

O não conhecimento ou a inexistência de estudos científicos muitas vezes induz em erro a nossa percepção do estado das “coisas” , devido a isso, tudo que eu possa escrever pode estar ferido de morte por falta de dados que alicercem a fundamentação.

As noticias na pesca, principalmente as de boas pescarias na maior parte das vezes voam, chegam ao conhecimento de todos, por vezes nem que seja alguns dias depois, mas chegam.

A realidade que constato é que as boas pescarias são cada vez mais esporádicas, observo inúmeras vezes os profissionais a levantar redes e aparelhos e as capturas igualmente são diminutas.

Á um par de anos atrás com as condições minimamente aceitáveis existiam sempre capturas, se a sorte não nos bafejasse, alguns peixes eram capturados por amigos ou conhecidos, actualmente a situação é muito diferente.

O que terá acontecido?

Factores mais importantes em minha opinião:

A pesca profissional evoluiu muito, técnicas mais massivas de pesca, mais eficazes e potencialmente mais destrutivas.

O incumprimento pelos profissionais da legislação em vigor não respeitando a maior parte das vezes a distancia mínima costeira onde podem exercer a sua actividade profissional.

A captura massiva e ilegal de milhares de peixes juvenis, sem tamanho mínimo legal de captura e reprodução, em estuários e rias por todo o território nacional, aqui neste ponto, profissionais e lúdicos estão de mãos dada nas culpas associadas.

A captura completamente despropositada pelos profissionais de grandes quantidades de peixes na altura da reprodução dos robalos, sendo boa parte desses peixes indivíduos reprodutores impossibilitados de se reproduzirem e assim deixar o seu contributo para gerações futuras da espécie.

A pescador desportivo tem a cada dia que passa materiais mais eficazes para capturar peixe, melhores ferramentas informáticas para planear as saídas de pesca, e o spinning é uma técnica de eleição para a captura de grandes exemplares, e neste momento já serão milhares os pescadores adeptos desta técnica.

É sempre mais fácil atribuir a culpa da falta de peixe aos pescadores profissionais, mas nós os lúdicos também a temos, numa escala muito menor mas o impacto existe, muito mais para quem acreditar na teoria da existência de robalos residentes em alguns pesqueiros mas a mesma carece de verdade cientifica por isso não vale muito a pena ir por esse caminho..




O que poderia ser feito para inverter esses caminho?

Só o facto de profissionais e lúdicos cumprirem a legislação em vigor poderia alterar alguma coisa, mas provavelmente não chegaria porque é demasiada a pressão de pesca exercida por profissionais e lúdicos.

Uma fiscalização mais rigorosa dissuadira muitos prevaricadores.

O defeso da espécie, zonas interditas de pesca, zonas de abrigo, estas ultimas rotativas ou não, sendo que a criação de zonas rotativas poderia implicar uma maior pressão nas zonas sem interdição, em resumo e por fim o DEFESO para todos, profissionais e Lúdicos.

Acho que é de conhecimento geral que o preço do robalo tem o seu pico nos meses estivais, fruto da nossa própria cultura de comer mais peixe de Verão do que de Inverno mas também muito influenciado pelo turismo e pela procura de Robalos nos principais ofertas hoteleiras da região.

A verdade é que não são raras as vezes que os grandes e selvagens exemplares que a hotelaria procura para os seus clientes na altura Estival muitas vezes escasseiam para alegria dos profissionais que vêm a sua pesca e lucro serem rentabilizados , o problema é que muitas vezes a procura supera a oferta, o preço de compra claro que sobe mas os profissionais não tem capacidade de fornecimento da procura, perdem dinheiro e muito dinheiro.
O exercício é simples:

100 kg de pescado na altura da desova podem ser vendidos a 600 euros( em pico da desova é comum encontrar-se robalos amontoados e completamente ovados nas lotas a serem vendidos a 6 euros o kg)

100 kg de Verão, vendidos a 20 euros o kg = 2000 euros

Com o defeso, a espécie poderia desovar tranquilamente, a continuidade da espécie e respectivos stock seria assegurada, os profissionais teriam mais pescado para vender quando houvesse uma procura maior mesmo que com a oferta a aumentar os preços médios de venda seriam sempre superiores ao da desova.

Conclusão.

Os profissionais tinham a sua actividade assegurada
Os lúdicos tinham mais peixe para praticarem a pesca com maior sucesso e satisfação.
A continuidade da espécie era salvaguardada.

Não é a primeira vez que abordo este tema, além de pertinente é claramente actual, faltam os dados para sustentar muita coisa, ficaram umas ideias gerais de algo que pode ser feito e deverá ser pensado e analisado, nos próximos anos o tema irá ser falado e discutido, é uma tema importante e crucial não só para os pescadores profissionais e lúdicos mas igualmente para toda a industria que rodeia a pesca dos robalos: lojas de pesca, importadores, marcas de pesca, náutica de recreio e profissional, espaços comerciais dedicados aos consumíveis de pesca dos profissionais, hotelaria e por fim a exportação de peixe.




Por fim este texto não é uma critica aberta, porque na mesma critica e reflexão eu teria que estar incluído porque mato peixe, logo também contribuo para a descida de stocks da espécie, as fotografias não são inocentes,nenhuma das duas primeiras honra os peixes, adversários dignos merecedores de serem tratados e retratados com o maior respeito, a dureza da fotos tem a mensagem implícita de como nós os seres humanos na nossa condição mais primária tratámos outros seres vivos:
Uma foto de uma grande femea capturada no ultimo Inverno outra foto com peixes mais pequenos capturados após a desova de 2010.

Não sou um falso moralista que vem apontar o dedo sem olhar para ele próprio, qual foi pior, matar a fêmea ovada ou 4 peixes a rondar 2 kg?

Realmente entre as duas primeiras fotos, aquilo que pior será na minha óptica é a fêmea morta, em consciência mato muito menos peixe do que o fazia mas continuo a matar, não me considero exterminador mas sou predador, tal e qual nos condiciona a nossa condição de ser humano é chegada a hora de cada vez mais reflectirmos no que queremos para o amanhã.

A ultima foto corresponde a um robalo devolvido para crescer porque o amanhã existe.